Estamos no dia 20 de outubro de 1572 em Paris, uma manhã fria e úmida. Paris é uma cidade assustada, dominada pelo medo e pavor por causa da perseguição àqueles que sintonizassem com o movimento da Reforma Luterana.
Por interesses políticos disfarçados por fé religiosa, o governo da rainha mãe Catarina de Médicis e seu filho o rei da França, Carlos IX perseguia em nome da Igreja do Papa Gregório XII. Dois meses antes, no dia 24 de agosto de 1572, houvera um massacre desumano, que recebera o nome de “Massacre de São Bartolomeu”, onde os adeptos desta reforma foram trucidados de forma cruel. O massacre durou três dias, e se estendeu a outras províncias e localidades. Alguns dos envolvidos nestes tristes episódios, ainda têm suas reencarnações impactadas nos dias de hoje.
Neste dia chegou à cidade, uma carruagem de família abastada, os Louvigny-Raymond, que se dirigiu a um pequeno palácio na Praça Rosada, chamado “Palácio Raymond”. De dentro desta carruagem desceu uma preceptora e uma linda jovem, a senhorita Otília de Louvigny. Três preocupados criados as aguardavam, Gregório, Rachel e Camilo. Eles estavam temerosos que algo desagradável acontecesse a “mademoiselle”.
No momento em que “mademoiselle” conversava com os criados no interior do palácio, ouviu-se um som de uma marcha-lenta de uma tropa militar, era o Capitão da Fé, Sr. de Narbonne e sua cavalaria, em uma de suas visitas macabras a bairros suspeitos de heresia e desrespeito a fé católica.
Otília desafiadora ordena que os criados abram as portas e se põe no balcão, consciente de seu magnetismo e beleza, lançando um olhar ao Capitão da Fé, que ensaiou até a expressar um sorriso, tão incomum àquela boca, acostumada apenas a expressar ordem militares e orações.
Os vizinhos espreitavam escondidos atrás de suas janelas, sabiam que os Louvigny-Raymond eram amigos de Brethencourt de La-Chapelle, reformistas que haviam passado longa temporada neste Palácio. Esse fato fazia com que todo o bairro fosse também suspeito. Imaginavam que a senhorita seria presa e condenada. O que não aconteceu, surpreendendo a todos.
À tarde, a comitiva retorna por este mesmo caminho e Luis de Narbonne diminui a marcha quando passa pelo Palácio, e Otília se põe mais uma vez ao balcão, sorridente e arrebatadora, e lança um botão de rosa vermelha ao Capitão da Fé. Um de seus escudeiros recolhe o botão e ao sinal do Capitão devolve a dama. O cortejo segue e desaparece…
Otília então diz para sua preceptora:
“- Arpoei a fera,… E juro pela honra da minha crença de reformista luterana e pela memória de meus pais e irmãos, trucidados sob suas garras, que não escapará aos meus tentáculos vingadores!…”.
Cai em pranto pesado e violento.